O sonho de um terrível pesadelo
Deitado em minha cama
Assistindo TV à cabo
Um programa chato de vendas
Não eram nem oito horas da noite
Foi quando dei uma leve piscada
Subitamente fui direcionado
A um lugar paradisíaco
Estava muito bom tudo
Tinha uma bela praia
Vários coqueirais e quiosques
Parecia uma versão melhorada de Mongaguá
Parecia uma versão melhorada de Mongaguá
Só que sem o cheiro de merda no mar.
Estava tranquilão nessa praia
Apenas bebericando de uma boa cerva
Ouvindo o belo som das ondas
Até que uma enorme sombra
Adentrou-se ao meu guarda-sol
Com uma voz máscula gritando
Próximo como eu jamais queria
Olhei para o lado e lá estava ele
O negão da piroca
Vendendo pão com linguiça
Rejeitei o alimento
Pois a linguiça estava muito preta
E eu não gosto de carne muito passada.
Ao longe avistei no mar
Uma pessoa em pé fazendo wakeboard
Mas não havia nenhuma lancha, prancha
Ou nem mesmo um barco puxando-a
Ao se aproximar da areia
Em altíssima velocidade
Reparei que era um homem cabeludo
Com uma barba volumosa
E possuía um olhar sutil e meigo
Porém, com aspecto sério em sua face
A princípio achei que fosse Jesus Cristo
Mas, depois mais perto, percebi
Que era apenas o Chuck Norris.
Que era apenas o Chuck Norris.
Bruce Lee chegou lá do nada
Dando uns mortais sem sentido
Meteu uma voadora no peito de Norris
Infelizmente, Bruce quebrou o pé
Norris riu da cena bizarra e disse:
"Volte a fabricar tênis, que é o que faz de melhor"
Olhei em volta e reparei surpreso
Muitas mulheres espalhadas, todas nuas
Balançando suas tetas
A favor da recuperação de Bruce Lee
Um manifesto feminista seria?
Acho que não, pois haviam câmeras
Devia ser mais um filme tosco
Rodado pelo Sylvester Stallone.
Levantei e fui dar um mergulho
A água estava muito gelada
Fez a tartaruga recuar pro casco
Se me tirassem a sunga
Achariam que eu era o Ken
Para aumentar ainda mais a minha vergonha
Aparece, correndo na areia, ela
Pamela Anderson, toda molhada
Com aquele maiô colado de Baywatch
Só que com o frio que tava
Eu apenas pensava em uma coisa:
Seria fantástico ter uma benga aquática
Seria fantástico ter uma benga aquática
De tão gelado não conseguia me mover
Perdi a consciência e afundei
Ariel veio à nado e me socorreu
Mas a filha da puta me levou até uma ilha.
Cansado, com frio, com fome e solitário
Após dias sobrevivendo em uma ilha de merda
Acabei virando o barbudo de Náufrago
Então, quando eu menos esperava
Advinha quem apareceu lá?
Negão da Piroca, de novo
Dessa vez vendendo picolé
Mas não aceitei nenhum
Só tinha de chocolate num formato roliço
Com aquele líquido branco dentro
E eu prefiro o picolé tradicional
Negão foi embora fazendo girocóptero
Porém, Ariel apareceu outra vez
Acabou dando mole e eu não aguentei
Enfiei a vara nela
E assei-a na fogueira ao anoitecer
Fazia tempo que não comia nada
Diz o japonês que é bom comer peixe, né.
Fiquei extremamente puto e pensei:
"Com quantos paus se faz uma canoa?"
A minha ex-mulher com apenas um
Conseguiu um Iate e uma Mercedez
Mas eu não sou a minha ex-mulher
Então tive que me virar
Pra construir a porra de um barco!
Joguei o bichão na água
E fui remando sem noção
Na terceira remada já tava cansado
Insisti na desgraça
Cheguei em uma casinha de rancharia
Tinha um gordo de boné
Com cara de tonto, sentado lá na frente
Perguntei se sabia onde era a praia
Ele me olhou de cabo a rabo e disse:
"Sei não, melhor perguntar lá no Posto Ipiranga"
Meti uma bica na cadeira
Nem precisou de muito esforço quebrar
Foi tenso de ver o gordinho rolando sem parar
Roubei a bicicleta enferrujada dele.
A corrente da bike estava solta
Raspou em minha perna várias vezes
Devo ter pego tétano
A vida já estava uma merda sem fim, mesmo
Consegui chegar na praia paradisíaca
E ela estava cheia de gente feia
Bateu uma forte tristeza ao ver que
Aquele lugar maravilhoso
Tinha se tornado um piscinão de ramos
Adentrei à areia, mas não entrei no mar
Não sou besta, prefiro tétano que cólera
Parecia a visão do inferno
Um monte de gente suada, fedida
Olhei para o céu e questionei:
"Senhor, por que me castigastes?"
Quando uma mulata linda veio
Flertou comigo, lascou-me um beijo
E me levou para conhecer seu apartamento.
Um sonho, um tesão sem fim a nega
Me deu vinho, me deu amor, mais vinho
Preparou um acarajé sensacional
E olha que, pelo sotaque, nem era baiana
Lascou-me três doses de beijo
Mais cinco de vinho
Já estava tão zonzo, mas tão zonzo
Que eu via ela dançando que nem a Globeleza
Mesmo ela estando parada
Parada não, dando mais vinho pra mim
Ouvi um forte rugido e olhei pro lado
Era alguém fantasiado de dinossauro
Achei que fosse o Dino, ou o Barney
Olhei de volta para a mulata, só decepção
A a roupa e a peruca no chão
De pé o Negão com a piroca na mão
Levantei rapidamente e bateu a labirintite
Fui cambaleando até a janela
Tropecei em uma parte da piroca
Acho que eram as bolas
E cai do prédio em queda livre.
Acordei naquele susto bizarro
Achando que já era outro dia
Porém, ainda eram onze horas da noite
E ainda estava a TV ligada
No chato programa de vendas
Tudo foi apenas um sonho
Ou pesadelo, cada um interpreta como pode
Fui até a cozinha para tomar uma água
Advinha quem estava lá?
A minha mãe fazendo comida
Perguntei o que era o rango
Ela me disse tranquilamente:
"Pão com linguiça no capricho
De sobremesa tem picolé recheado"
Logo me bateu uma coisa ruim
Corri para o quarto
Meti um filme pornô na televisão
E tentei ao máximo focar em outra coisa
Quando levei um susto com o apito do celular
Uma mensagem de grupo do whatsapp
Era a imagem de um presente que dizia assim:
"Olha só o presentão que ganhei de natal"
Sabe então o que eu fiz?
Rezei pedindo paz e salvação ao senhor
E joguei o meu celular na parede.
Autor: Caio Estrela.
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