Cristiano Ronaldo - O último dos grandes ídolos.


     Portugal conquistou o seu primeiro título de peso ao ganhar da França na final da Eurocopa deste ano. Cristiano Ronaldo se sagrou o maior artilheiro da história da competição, se igualando a Platini e conseguiu dar ao seu país um título inédito e tão esperado por todos os portugueses. Portugal sempre teve bons jogadores, mas em pouco número, tanto que em cada geração apenas haviam dois, ou no máximo três, jogadores com grande potencial jogando junto em uma mesma época na seleção. Cristiano Ronaldo, que já conquistou três títulos de melhor jogador do ano, o cobiçado prêmio de Bola de Ouro da FIFA, sempre manteve seu papel de responsabilidade em campo, jogando o máximo do que pode oferecer - tanto pelos clubes a qual pertenceu, quanto à seleção de Portugal.- Com os clubes se sagrou vitorioso e, junto de outros grandes jogadores, conquistou todos os tipos de títulos existentes, tanto coletivamente quanto individualmente. Porém, na seleção sempre foi difícil ajudar o time a conquistar algum título importante, porque o país carecia de outros jogadores de qualidade parecida, ou próxima, a de Cristiano. Uma equipe não se forma por um jogador, apenas. Aliás é muito mais complexo do que isso, pois uma equipe vitoriosa nem sempre se dá pelo melhor elenco, mas pelo conjunto de jogadores que mais se dedicam a vencer (o que chamamos de raça, ou de 'dar o sangue').

     A seleção portuguesa sempre careceu, não só de jogadores excepcionais, mas também dessa real vontade de vencer, esse espírito de poder conquistar um título mesmo não sendo os melhores - de que tudo é possível e de que nada possa intervir nesse fator - e somente nesse ano de 2016 que os jogadores portugueses tiveram esse 'boom'. Portugal, em si, não é a única referência na Eurocopa deste ano, seleções improváveis como Polônia, Islândia e País de Gales também se mostraram vitoriosas ao encarar as tradicionais e gigantes seleções da Europa de igual para igual, eliminando as principais que já foram um dia campeãs do mundo. Era o momento de Portugal, que sempre adentrou-se às competições com muita dedicação, chegando até em semi-finais e, até mesmo, em uma final de Eurocopa (em Portugal). Talvez faltava uma verdadeira referência ou, quem sabe , apenas o espírito de vitória, pois já teve grandes jogadores como Eusébio e Figo, porém, em uma época em que o futebol ainda não era tão nivelado tecnicamente como atualmente. Até em meados dos anos 2000, ainda era possível um jogador ser responsável pelos resultados da equipe em campo (o famoso termo 'levar nas costas'). - Como fizeram PeléMaradona, ZidaneRonaldoRomário, através de suas respectivas genialidades e comportamentos, tanto dentro quanto fora de campo. Foram jogadores que procuravam honrar primeiro a sua nação para, depois, servir o seu clube. No entanto, todos esses grandes nomes citados puxavam a responsabilidade para si e, de fato, resolviam. Eles ofereciam o melhor possível para que a seleção de seu país chegasse ao seu triunfo. Faziam um exímio trabalho e apenas comprovavam o quanto eram realmente geniais, capazes de definir um resultado para qualquer equipe, seja ela um clube ou uma seleção.

     Com o aumento da tecnologia e dos meios principais que regem o futebol (taticamente, ou fisicamente), o esporte chegou em um nível muito equiparado. Hoje qualquer jogador possuí as mesmas chances de se destacar, comprometendo o individualismo em campo. Um time pode até possuir uma referência, porém a mesma não consegue mais se destacar sem ajuda do restante da equipe, como os craques de antigamente faziam. Pois a técnica e parte física estão completamente equiparadas, proporcionando uma plena igualdade em campo. Exatamente por isso, muitas equipes hoje em dia visam o coletivo, buscando a posse de bola e o controle de jogo. A 'raça', hoje, é algo de extrema importância ao futebol, pois, sem ela, clube algum terá a chance de chegar ao título. A prova disso é a conquista da Barclays League (1ª Divisão Inglesa) pelo Leicester City, um clube que há pouco tempo havia subido de divisão. Os jogadores tinham um objetivo e possuíam, principalmente, a 'garra' e o senso de que "podemos sim ganhar". Fizeram história no futebol e não há dúvidas de que isso influenciou as demais equipes e, consecutivamente, as seleções. Não foi à toa que a Islândia chegou em uma das fases finais, que País de Gales (em sua primeira Eurocopa) chegou na semi-final contra Portugal. Mesmo a equipe da França jogando em seu país, com o enorme e belo apoio de seus torcedores, acabou tendo uma dificuldade absurda contra Portugal, tanto que foi um excelente jogo de futebol. A mesma equipe que ganhou da atual campeã do mundo (Alemanha) acabou perdendo para a seleção de Portugal que, em termos técnicos, era considerada inferior. Foi um jogo de grande vontade e entrega de ambas as equipes, mas o sonho tão próximo aos jogadores portugueses, de conquistarem um título inédito ao país, fez a diferença em uma partida muito coerente. As duas equipes se dedicando ao máximo, com seus acertos e defeitos tais como qualquer outra. Portugal, logo ao início, já havia perdido, por lesão, a sua principal estrela. Mesmo com o joelho danificado, a ponto de requerer um longo descanso, Cristiano Ronaldo bateu no peito como um verdadeiro ídolo deve fazer e regeu (liderou) o restante do time junto ao seu técnico. Essa postura de líder, de motivação frenética, só tinha de acrescentar aos jogadores portugueses - não era apenas o Ronaldo que precisava do título e, sim, o país inteiro que o desejava. Seria estúpido um jogador do nível dele abandonar a sua seleção por não poder estar em campo e Ronaldo provou que o sonho de uma nação é mais importante do que o ego de um jogador (por mais que esse título acarrete a ele enormes premiações, ele estava ali com o coração e seu desejo de vitória era explícito. Não estava ali apenas para bater ponto e cumprir com seu horário/salário, estava ali para servir a sua nação). Essa demonstração de responsabilidade afetou seus companheiros, que juntos, chegaram à vitória e levantaram uma tão esperada taça que fora cobiçada por muitos e muitos anos. É realmente bonito de ver uma seleção comemorar um título entalado na garganta de muitas gerações, essa é a verdadeira festa que o futebol pode proporcionar. 
     O futebol contemporâneo mostra que essa igualdade só tem de oferecer momentos épicos para qualquer país, não é à toa que as seleções consideradas mais fracas estão se sobressaindo às mais fortes e isso está ocorrendo em todos os continentes. A ideia de equipe é algo que está voltando a se constituir e tomara mesmo que os jogadores passem a esquecer do dinheiro para apenas focarem em seu trabalho, pois as pessoas torcem para poderem comemorar algo. É um desrespeito com a torcida o jogador se preocupar mais com o que o futebol irá lhe oferecer (monetariamente) do que poder oferecer algo ao futebol. Cristiano Ronaldo é um ícone que merece respeito dentro e fora de campo - um homem que procura sempre ajudar a quem necessita, usa-se muito do que ganha para destinar às pessoas que muitos não procuram enxergar, ou fingem que não existem. Ele sabe que é o melhor, porque ele se esforça muito para isso, porque ele se dedica muito a isso. Porque ele realmente faz por merecer tudo o que ganha e o que oferece.
     É assim que tem de se comportar um jogador de alto nível, que puxa a responsabilidade e que saiba representar, não apenas um grande futebol em campo, mas fora também. É o cara que sabe honrar com o seu trabalho profissional, fazendo-o com perspicácia, caráter e servindo não apenas ao clube, que paga o seu salário, mas, principalmente, a nação à qual ele pertence.

     Jogador assim não se faz mais, nem mesmo os que dizem ser os melhores - estes que tem total capacidade e meios para os tornarem ainda mais dignos e vitoriosos, porém, fracassam por não terem muito a oferecer, a não ser a si próprio - e o Cristiano Ronaldo talvez seja o último que ainda possua esse domínio de peso a que lhe é retribuído. Temo que este seja o último jogador da geração de verdadeiros ídolos (como os demais já citados anteriormente, entre outros). Temo, também, que Cristiano seja o único dessa nova geração de grandes craques em que apenas se preocupa em vencer, não se preocupando com o quanto lucrará sobre o seu bom futebol. Que ele sirva de exemplo aos demais que ainda podem chegar ao mesmo nível que o dele, pois alguns parecem se espelharem em apenas quem não se importa com o real valor de servir um país, mas, que se importa somente em números e recordes pessoais.

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